Não são poucos os representantes da geração Y que estão escolhendo trabalhar para o governo. Por que isso acontece e o que muda no serviço público futuramente?
Eles não são mais reféns do terno e gravata, não carregam pastas e fogem do estigma da burocracia. A nova leva de servidores públicos brasileiros é formada essencialmente pelos que transitam na geração Y, grupo de pessoas que nasceram após a década de 1980.
Apesar de os dados do Ministério do Planejamento mostrarem que a média de idade dos servidores ativos do Poder Executivo hoje é de 46 anos, as salas de aula dos cursos preparatórios para concursos mostram uma nova realidade.
De acordo com Wilson Granjeiro, professor e dono do Gran Cursos, 65% dos cerca de 30 mil alunos matriculados atualmente são bem jovens. “A grande maioria está entre a faixa dos 16 e 30 anos. Mesmo quem é menor de 18, idade inicial para tomar posse, já tenta se preparar. Os jovens estão invertendo o processo, entrando primeiro na carreira pública e depois se preocupando com a graduação”, explica.
A história do velho Barnabé, contada no samba de Haroldo Barbosa e Antonio Almeida, anda em vias de se tornar lenda no imaginário popular. O servidor retratado na música, acomodado e pouco preocupado com o trabalho público, não é mais uma constante em grande parte das repartições públicas do país.
Em vez de carregarem papéis e carimbos de um lado para o outro, a nova geração de funcionários está conectada a tablets e celulares, planejando, gerenciando crises, esboçando grandes projetos e buscando inovação. E esse grupo tem desempenhado papéis cada vez mais importantes no governo.
Granjeiro acredita que o fato de os órgãos governamentais oferecerem remunerações melhores do que as da iniciativa privada influi muito na hora de os jovens optarem pelos cargos públicos.
Segundo ele, no Distrito Federal se paga quatro vezes mais no serviço público do que na iniciativa privada. “Onde um jovem que acabou o ensino médio pode começar uma carreira ganhando R$ 14 mil, como é o caso dos técnicos legislativos da Câmara? Como um jovem que mal terminou o ensino superior ganha R$ 26 mil, como se pode ganhar nas carreiras de magistratura? Isso pesa muito na hora da escolha”, diz.
Apesar de os gordos contracheques serem um grande atrativo para os jovens que pretendem ser concursados, o professor alerta para outros fatores. “Escolher um concurso apenas pela remuneração e pelo número de vagas é um erro crasso. Deve-se escolher também por afinidade, pela vocação. Isso ajuda na hora dos estudos, da aprovação e da progressão na carreira.”
O professor profetiza que, no prazo de uma geração e meia, o quadro de servidores públicos do governo federal deve estar tomado pelos membros da tribo Y. “Até lá devemos ter uma administração pública bem gabaritada, um Brasil totalmente renovado.
Saímos de uma cultura burocrática e entramos na era gerencial.” Para ele, a entrada de jovens nas repartições públicas tem trazido muitas mudanças positivas. O ganho está no aumento da eficiência, na eliminação do desperdício, no controle dos gastos, na recuperação de desvios e na criação de receita extratributária.
João Domingos Batiston Bimbato exemplifica bem isso. Ele tem 27 anos e integra o hall de diplomatas brasileiros que têm como missão representar o Brasil mundo afora. A tarefa não é para qualquer um. Para ser aprovado no concurso do Itamaraty, é necessário ter fluência em duas línguas estrangeiras e ter domínio de disciplinas como política internacional, economia e direito. Não é à toa: a remuneração inicial para terceiros secretários, título inicial para quem entra na diplomacia, é de R$ 12,9 mil.
Para realizar o sonho de se tornar diplomata, João abriu mão de tudo e se dedicou apenas aos estudos no período de um ano. “Escolhi a carreira por vocação. Claro que a questão do salário é importante, mas consegui unir o útil ao agradável. Se eu tivesse feito o concurso apenas pelo dinheiro, teria optado por outra área, na qual provavelmente eu ganharia muito mais”, conta.
O servidor diz ter se acostumado com pessoas jovens no trabalho: “Aqui em Brasília, essa vontade de ser servidor público é cultural, já vem de casa. A promessa de estabilidade tem sido fundamental para que os jovens façam essa escolha”. Ele considera positivo. “Nós estamos sempre conectados às redes sociais e informados do que acontece no mundo”, acredita.
Com a mesma idade de João, Anjuli Tostes também tem um bom currículo como concurseira. Recentemente, passou em 1º lugar no concurso da Controladoria Geral da União (CGU), para o cargo de analista de finanças e controle, e aguarda a nomeação.
Antes, já havia conseguido aprovação nas seleções da Dataprev e do Tribunal Superior do Trabalho (TSE). Com apenas 27 anos, ela já largou a vida de empreendedora – era dona de um curso preparatório de concursos – para garantir a estabilidade tão sonhada por grande parte dos brasileiros. “A iniciativa privada é estimulante e tem suas vantagens, mas enxerguei no serviço público a possibilidade de realmente fazer a diferença e ainda de ser bem remunerada por isso”, diz.
O resultado veio rápido: após estudar oito horas por dia, desde o ano passado, Anjuli conquistou uma remuneração que ultrapassa a cifra dos R$ 12 mil. Para ela, a geração Y vai dar cara nova ao setor público: “Nós temos uma profunda consciência social e vontade de mudar as coisas, de inovar. Somos pessoas cheias de energia e que gostam de trabalhar a partir de metas, de desafios. Acredito ser possível mudar a cara do país”.
Com uma ideia parecida do que é a carreira pública, Maria das Graças Gomes, de apenas 16 anos, decidiu cedo o que quer fazer profissionalmente. Ela ainda está cursando o ensino médio, mas pretende, a partir do ano que vem, tomar aulas de direito para concursos. Sua meta é conseguir uma cadeira no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) ou na Defensoria Pública. “Já fiz o concurso do Banco do Brasil e percebi que não é tão difícil. Acredito que posso ser aprovada tranquilamente. Assim que terminar o colégio, vou me matricular em um cursinho para concursos”, planeja.
Para Maria, a pressão constante por parte da família e das pessoas mais próximas tem motivado os jovens a procurar o sucesso profissional nas repartições públicas. “Você tem que ir para faculdade, ter um bom emprego, ser bem-sucedido. Acho que é por isso que as pessoas estão procurando cada vez mais fazer concursos”, relata.
Os irmãos Rodrigo e Paulo Bessoni, de 26 e 19 anos, compartilham a mesma vontade: ter bons salários e estabilidade para concretizar desejos e projetos. Ambos decidiram se tornar servidores por exemplos de dentro da própria família.
Rodrigo já é concursado: veio de Pernambuco para trabalhar como técnico judiciário do Superior Tribunal de Justiça (STJ). “Concurso público permite que você tenha uma renda e se planeje com as outras coisas que deseja fazer. Meu cargo é de nível médio, mas estou me graduando em economia e pretendo fazer outros concursos para a área.”
Paulo pretende seguir os passos do irmão mais velho: “A ideia de estudar para concursos foi basicamente influência dele. Ele e meu outro irmão são concursados, minha mãe também”.
Aos 16 anos, participou da primeira seleção. Recentemente, tentou uma cadeira no Senado e, ao perceber o nível de dificuldade das provas, resolveu continuar tentando a aprovação.
O salário, para o jovem, é a maior motivação: “As pessoas precisam se manter enquanto estudam. O trabalho no serviço público às vezes serve exatamente para isso. Muita gente trabalha com cinema, por exemplo, e se mantém como servidor. Na iniciativa privada você fica muito vulnerável”.
Fonte: Correio Braziliense - http://servidorpblicofederal.blogspot.com.br/2013/01/servico-publico-de-cara-nova.html
Eles não são mais reféns do terno e gravata, não carregam pastas e fogem do estigma da burocracia. A nova leva de servidores públicos brasileiros é formada essencialmente pelos que transitam na geração Y, grupo de pessoas que nasceram após a década de 1980.
Apesar de os dados do Ministério do Planejamento mostrarem que a média de idade dos servidores ativos do Poder Executivo hoje é de 46 anos, as salas de aula dos cursos preparatórios para concursos mostram uma nova realidade.
De acordo com Wilson Granjeiro, professor e dono do Gran Cursos, 65% dos cerca de 30 mil alunos matriculados atualmente são bem jovens. “A grande maioria está entre a faixa dos 16 e 30 anos. Mesmo quem é menor de 18, idade inicial para tomar posse, já tenta se preparar. Os jovens estão invertendo o processo, entrando primeiro na carreira pública e depois se preocupando com a graduação”, explica.
A história do velho Barnabé, contada no samba de Haroldo Barbosa e Antonio Almeida, anda em vias de se tornar lenda no imaginário popular. O servidor retratado na música, acomodado e pouco preocupado com o trabalho público, não é mais uma constante em grande parte das repartições públicas do país.
Em vez de carregarem papéis e carimbos de um lado para o outro, a nova geração de funcionários está conectada a tablets e celulares, planejando, gerenciando crises, esboçando grandes projetos e buscando inovação. E esse grupo tem desempenhado papéis cada vez mais importantes no governo.
Granjeiro acredita que o fato de os órgãos governamentais oferecerem remunerações melhores do que as da iniciativa privada influi muito na hora de os jovens optarem pelos cargos públicos.
Segundo ele, no Distrito Federal se paga quatro vezes mais no serviço público do que na iniciativa privada. “Onde um jovem que acabou o ensino médio pode começar uma carreira ganhando R$ 14 mil, como é o caso dos técnicos legislativos da Câmara? Como um jovem que mal terminou o ensino superior ganha R$ 26 mil, como se pode ganhar nas carreiras de magistratura? Isso pesa muito na hora da escolha”, diz.
Apesar de os gordos contracheques serem um grande atrativo para os jovens que pretendem ser concursados, o professor alerta para outros fatores. “Escolher um concurso apenas pela remuneração e pelo número de vagas é um erro crasso. Deve-se escolher também por afinidade, pela vocação. Isso ajuda na hora dos estudos, da aprovação e da progressão na carreira.”
O professor profetiza que, no prazo de uma geração e meia, o quadro de servidores públicos do governo federal deve estar tomado pelos membros da tribo Y. “Até lá devemos ter uma administração pública bem gabaritada, um Brasil totalmente renovado.
Saímos de uma cultura burocrática e entramos na era gerencial.” Para ele, a entrada de jovens nas repartições públicas tem trazido muitas mudanças positivas. O ganho está no aumento da eficiência, na eliminação do desperdício, no controle dos gastos, na recuperação de desvios e na criação de receita extratributária.
João Domingos Batiston Bimbato exemplifica bem isso. Ele tem 27 anos e integra o hall de diplomatas brasileiros que têm como missão representar o Brasil mundo afora. A tarefa não é para qualquer um. Para ser aprovado no concurso do Itamaraty, é necessário ter fluência em duas línguas estrangeiras e ter domínio de disciplinas como política internacional, economia e direito. Não é à toa: a remuneração inicial para terceiros secretários, título inicial para quem entra na diplomacia, é de R$ 12,9 mil.
Para realizar o sonho de se tornar diplomata, João abriu mão de tudo e se dedicou apenas aos estudos no período de um ano. “Escolhi a carreira por vocação. Claro que a questão do salário é importante, mas consegui unir o útil ao agradável. Se eu tivesse feito o concurso apenas pelo dinheiro, teria optado por outra área, na qual provavelmente eu ganharia muito mais”, conta.
O servidor diz ter se acostumado com pessoas jovens no trabalho: “Aqui em Brasília, essa vontade de ser servidor público é cultural, já vem de casa. A promessa de estabilidade tem sido fundamental para que os jovens façam essa escolha”. Ele considera positivo. “Nós estamos sempre conectados às redes sociais e informados do que acontece no mundo”, acredita.
Com a mesma idade de João, Anjuli Tostes também tem um bom currículo como concurseira. Recentemente, passou em 1º lugar no concurso da Controladoria Geral da União (CGU), para o cargo de analista de finanças e controle, e aguarda a nomeação.
Antes, já havia conseguido aprovação nas seleções da Dataprev e do Tribunal Superior do Trabalho (TSE). Com apenas 27 anos, ela já largou a vida de empreendedora – era dona de um curso preparatório de concursos – para garantir a estabilidade tão sonhada por grande parte dos brasileiros. “A iniciativa privada é estimulante e tem suas vantagens, mas enxerguei no serviço público a possibilidade de realmente fazer a diferença e ainda de ser bem remunerada por isso”, diz.
O resultado veio rápido: após estudar oito horas por dia, desde o ano passado, Anjuli conquistou uma remuneração que ultrapassa a cifra dos R$ 12 mil. Para ela, a geração Y vai dar cara nova ao setor público: “Nós temos uma profunda consciência social e vontade de mudar as coisas, de inovar. Somos pessoas cheias de energia e que gostam de trabalhar a partir de metas, de desafios. Acredito ser possível mudar a cara do país”.
Com uma ideia parecida do que é a carreira pública, Maria das Graças Gomes, de apenas 16 anos, decidiu cedo o que quer fazer profissionalmente. Ela ainda está cursando o ensino médio, mas pretende, a partir do ano que vem, tomar aulas de direito para concursos. Sua meta é conseguir uma cadeira no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) ou na Defensoria Pública. “Já fiz o concurso do Banco do Brasil e percebi que não é tão difícil. Acredito que posso ser aprovada tranquilamente. Assim que terminar o colégio, vou me matricular em um cursinho para concursos”, planeja.
Para Maria, a pressão constante por parte da família e das pessoas mais próximas tem motivado os jovens a procurar o sucesso profissional nas repartições públicas. “Você tem que ir para faculdade, ter um bom emprego, ser bem-sucedido. Acho que é por isso que as pessoas estão procurando cada vez mais fazer concursos”, relata.
Os irmãos Rodrigo e Paulo Bessoni, de 26 e 19 anos, compartilham a mesma vontade: ter bons salários e estabilidade para concretizar desejos e projetos. Ambos decidiram se tornar servidores por exemplos de dentro da própria família.
Rodrigo já é concursado: veio de Pernambuco para trabalhar como técnico judiciário do Superior Tribunal de Justiça (STJ). “Concurso público permite que você tenha uma renda e se planeje com as outras coisas que deseja fazer. Meu cargo é de nível médio, mas estou me graduando em economia e pretendo fazer outros concursos para a área.”
Paulo pretende seguir os passos do irmão mais velho: “A ideia de estudar para concursos foi basicamente influência dele. Ele e meu outro irmão são concursados, minha mãe também”.
Aos 16 anos, participou da primeira seleção. Recentemente, tentou uma cadeira no Senado e, ao perceber o nível de dificuldade das provas, resolveu continuar tentando a aprovação.
O salário, para o jovem, é a maior motivação: “As pessoas precisam se manter enquanto estudam. O trabalho no serviço público às vezes serve exatamente para isso. Muita gente trabalha com cinema, por exemplo, e se mantém como servidor. Na iniciativa privada você fica muito vulnerável”.
Fonte: Correio Braziliense - http://servidorpblicofederal.blogspot.com.br/2013/01/servico-publico-de-cara-nova.html
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