quarta-feira, 12 de junho de 2013

Juventude invade o setor público.

O funcionalismo público rejuvenesceu como nunca na última década. De 2003 para ca, a idade média dos servidores do Executivo na ativa despencou de 56 para 46 anos. A queda livre - média de um ano por ano - reflete uma cultura em que o primeiro emprego tem nome: estabilidade. Hipnotizados pela promessa de ganharem bem, não serem explorados e terem uma carga horária muito bem definida, milhares de jovens têm ignorado qualquer outra possibilidade que não seja trabalhar para o Estado, escasseando a oferta de mão obra estratégica para o crescimento econômico do país.

Levantamento feito pelo Correio com base nos boletins estatísticos de pessoal do Ministério do Planejamento confirma a invasão jovem nas repartições. Em 10 anos, o número de servidores com até 30 anos de idade quase triplicou, pulando de 26,4 mil para 71,9 mil, uma variação de 171%. A proporção desse grupo no universo de funcionários públicos, no mesmo período, cresceu de 5,8% para 13,5%, enquanto a faixa etária entre 40 e 50 anos apresentou redução de 44,6% para 22,5% (veja arte).

O caminho dos bancos escolares direto para ministérios, autarquias ou agências reguladoras acirra o conflito entre gerações e reacende o debate em torno da produtividade no funcionalismo. Em tese, os jovens deveriam dar novo gás ao ambiente de trabalho e acelerar o esperado choque de gestão na máquina pública. Mas a nomeação antes de qualquer outra experiência profissional e com foco somente na estabilidade aumenta - e muito - a possibilidade de frustração dos mais novos e de baixa produtividade nos serviços públicos, alertam especialistas.

A aprovação precoce, sublinha o economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Nelson Marconi, leva boa parte desses concursados a mergulhar numa lógica prejudicial a eles mesmos e ao funcionamento do Estado. "Se topam qualquer área por causa da estabilidade e do salário, são grandes as chances de ficarem desmotivados ou pulando de galho em galho", detalha Marconi, também consultor de recursos humanos e gestão pública.

Entre 2003 e 2013, a proporção de aprovados para órgãos do Executivo sem nível superior - ou seja, da escola direto para o serviço público - recuou de 28,5% para 26,44%. Porém, em números absolutos, houve um salto de 10 mil pessoas. Marconi lembra que não se pode proibir ninguém de prestar concurso, mas o Estado precisa assumir o desafio de lidar com jovens que definem a carreira somente pensando em salário garantido ou em atender a uma expectativa da família. "É um grave problema", reforça.

Servidores com até 30 anos de idade representam 43,6% da carreira em previdência complementar - entre os técnicos, esse índice sobe para 60%. Em órgãos como o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), quatro em cada 10 concursados pertencem a essa faixa etária, atuando ou não em cargos relacionados à formação de origem.

A preocupação com os jovens concursados não tem nada a ver com a idade em si ou mesmo com a trajetória de cada um, destaca a mestre em psicologia Rita Brum. Pesa, na avaliação dela, o perigo de se fazer uma escolha quase sempre definitiva, sem levar em conta a vocação. "Há pessoas com perfil para o serviço público, mas o que vemos são jovens em busca de uma felicidade que não se sustenta", afirma. "Estabilidade e segurança não são sinônimos de satisfação pessoal", emenda a sócia-diretora da Rhaiz Recursos Humanos.

Fonte: Autor: jornal Correio Braziliense - Extraído: http://oab-rj.jusbrasil.com.br/noticias/100554749/juventude-invade-o-setor-publico

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