Reserva de 12,5% das vagas para alunos de escolas públicas garante aprovação apenas dos melhores, que tiraram nota maior do que a livre concorrência em 66 dos 112 cursos na primeira etapa do vestibular
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) encerrou a metade do primeiro vestibular cumprindo a Lei das Cotas, em vigor desde outubro do ano passado. E quem conseguiu passar para a segunda etapa, de acordo com a nota de corte do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) – a menor entre os classificados –, é a elite da escola pública. Em 66 dos 112 cursos, incluindo todas as divisões de música, as notas dos estudantes que concorreram nas quatro modalidades de reserva foram maiores do que da livre concorrência. Em 13 cursos, os cotistas tiveram nota maior em três modalidades. Isso quer dizer que eles foram melhores em 70% das faculdades oferecidas pela UFMG, que este ano reservou 12,5% das vagas para alunos de escolas públicas, que se autodeclaram negros, pardos ou indígenas e tenham renda familiar mensal bruta menor do que 1,5 salário mínimo.
Se forem somados ainda os cursos em que uma ou duas modalidades de cotas têm nota maior do que os classificados na livre concorrência, o percentual aumenta para 91%. Apenas em nove cursos da UFMG – medicina, direito diurno, engenharia de produção, música canto, clarinete, composição, música popular, viola e violão – os cotistas não se sobressaíram e no de música oboé nenhum candidato optou pelas cotas.
Para o doutor em economia e pesquisador em educação Cláudio de Moura Castro, à primeira vista as cotas não estão ajudando tanto ainda. “Os classificados são a elite da elite, ou seja, se não fossem cotistas entrariam da mesma forma, mas o sistema atual ainda é um ensaio e mostra que quem entrou não precisa de cota. Vamos ver o que vai acontecer quando o número de vagas for igual”, afirmou. A lei determina que, em quatro anos, 50% das vagas nas instituições públicas de ensino superior e técnico sejam destinadas ao sistema de reserva.
Nos cursos mais competitivos, para o especialista, o sistema atual deu uma pequena ajuda. Neles, as notas dos cotistas foram menores do que dos outros estudantes classificados pela livre concorrência, mas nem tanto. Na medicina, por exemplo, que teve 49,77 candidatos por vaga, a nota de corte foi 85,0923, enquanto a dos cotistas ficou entre 85,0030 e 81,3667, dependendo da modalidade. “Na verdade, as cotas estão dando uma ajudinha para que eles entrem nos cursos mais disputados, o que é comparável ao que faziam os bônus de pontuação. A discussão é a qualidade de quem entra no ensino superior, e no momento as cotas não vão resultar em queda, mas no futuro, não se sabe se haverá estoque de cotistas de bom nível para entrar nas áreas que exigem pontuação alta”, analisou o especialista.
Com ou sem cota, os cursinhos pré-vestibulares estão cheios de alunos classificados se preparando para a segunda etapa da UFMG, que começa no dia 13. Madalena Duarte de Oliveira Lima, de 18 anos, tenta vaga em educação física por meio das cotas. Ela se inscreveu pela modalidade 3 e disse que ficou surpresa quando viu que a nota de corte foi maior que para a maioria. “As pessoas têm comentado no cursinho que as notas dos cotistas estão altas, mas a gente não entende bem o porquê. Acho que as pessoas que tentaram se dedicaram muito e é uma forma de selecionar quem vai para a segunda etapa”, afirmou. No caso dos cursos muito concorridos, ela comenta que o sentimento dos colegas de estudos era de preocupação redobrada. “No caso de cursos como medicina, a quantidade de vagas para os cotistas era muito pequena, então a saída foi estudar mais ainda para garantir uma nota de corte alta.”
O estudante Felipe Pedrosa Melgaço, de 19, também ficou surpreso com a nota de corte alta do curso que escolheu. Ele tenta uma vaga para medicina veterinária e se enquadrou na modalidade 4. Ele foi para a segunda etapa com 79 pontos, quatro acima da nota mínima da modalidade. “Achei a nota de corte bem alta. A minha modalidade teve a nota mais alta, até mais que a livre concorrência. Ninguém esperava por isso, principalmente considerando que são alunos de escolas públicas. Os estudantes esperavam que a nota fosse bem menor.”
Duas chances
Débora de Araújo, de 18, estuda para cursar direito à noite na UFMG e não se arrependeu de concorrer pelo sistema de reserva de vagas. “Eu não sabia como seria para entrar, foi um tiro no escuro, mas acho que valeu a pena, porque, se não passamos pelas cotas, vamos pela livre concorrência”, afirmou. O que Débora quis dizer é explicado pela coordenadora da Comissão Permanente do Vestibular (Copeve), Vera Resende. Os alunos que optaram pelas cotas, mas não foram classificados automaticamente disputam as vagas pela livre concorrência, como prevê a lei.
“No caso da UFMG, a migração ocorreu de duas formas. No primeiro momento, alguns estudantes optaram por uma modalidade, mas não conseguiram comprovar com a documentação. Nesste caso, eles migraram para outras modalidades em que poderiam se encaixar ou foram para a livre concorrência. Veio a primeira etapa e os candidatos desclassificados pela nota de corte na modalidade que escolheram passaram a concorrer com todos os outros”, afirmou. Segundo ela, é importante que os alunos cotistas verifiquem o nome nas duas listas de classificação, tanto na modalidade que eles escolheram, quanto na livre concorrência.
Para Vera Resende, a diferença entre as notas não causou espanto para a instituição. E considera que a resposta esteja no número de vagas. Enquanto os cotistas concorreram a 12,5% das vagas, a livre concorrência ficou com 87,5%. “Não foi surpresa para nós, porque não aconteceu em todos os cursos, para alguns o sistema foi benéfico. Os candidatos que concorreram são bons, tiveram nota boa e são pessoas preparadas para entrar na UFMG”, afirmou.
Fonte: http://www.em.com.br/app/noticia/especiais/educacao/2013/01/04/internas_educacao,341033/ufmg-aperta-o-funil-para-os-cotistas-no-vestibular.shtml
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) encerrou a metade do primeiro vestibular cumprindo a Lei das Cotas, em vigor desde outubro do ano passado. E quem conseguiu passar para a segunda etapa, de acordo com a nota de corte do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) – a menor entre os classificados –, é a elite da escola pública. Em 66 dos 112 cursos, incluindo todas as divisões de música, as notas dos estudantes que concorreram nas quatro modalidades de reserva foram maiores do que da livre concorrência. Em 13 cursos, os cotistas tiveram nota maior em três modalidades. Isso quer dizer que eles foram melhores em 70% das faculdades oferecidas pela UFMG, que este ano reservou 12,5% das vagas para alunos de escolas públicas, que se autodeclaram negros, pardos ou indígenas e tenham renda familiar mensal bruta menor do que 1,5 salário mínimo.
Se forem somados ainda os cursos em que uma ou duas modalidades de cotas têm nota maior do que os classificados na livre concorrência, o percentual aumenta para 91%. Apenas em nove cursos da UFMG – medicina, direito diurno, engenharia de produção, música canto, clarinete, composição, música popular, viola e violão – os cotistas não se sobressaíram e no de música oboé nenhum candidato optou pelas cotas.
Para o doutor em economia e pesquisador em educação Cláudio de Moura Castro, à primeira vista as cotas não estão ajudando tanto ainda. “Os classificados são a elite da elite, ou seja, se não fossem cotistas entrariam da mesma forma, mas o sistema atual ainda é um ensaio e mostra que quem entrou não precisa de cota. Vamos ver o que vai acontecer quando o número de vagas for igual”, afirmou. A lei determina que, em quatro anos, 50% das vagas nas instituições públicas de ensino superior e técnico sejam destinadas ao sistema de reserva.
Nos cursos mais competitivos, para o especialista, o sistema atual deu uma pequena ajuda. Neles, as notas dos cotistas foram menores do que dos outros estudantes classificados pela livre concorrência, mas nem tanto. Na medicina, por exemplo, que teve 49,77 candidatos por vaga, a nota de corte foi 85,0923, enquanto a dos cotistas ficou entre 85,0030 e 81,3667, dependendo da modalidade. “Na verdade, as cotas estão dando uma ajudinha para que eles entrem nos cursos mais disputados, o que é comparável ao que faziam os bônus de pontuação. A discussão é a qualidade de quem entra no ensino superior, e no momento as cotas não vão resultar em queda, mas no futuro, não se sabe se haverá estoque de cotistas de bom nível para entrar nas áreas que exigem pontuação alta”, analisou o especialista.
Com ou sem cota, os cursinhos pré-vestibulares estão cheios de alunos classificados se preparando para a segunda etapa da UFMG, que começa no dia 13. Madalena Duarte de Oliveira Lima, de 18 anos, tenta vaga em educação física por meio das cotas. Ela se inscreveu pela modalidade 3 e disse que ficou surpresa quando viu que a nota de corte foi maior que para a maioria. “As pessoas têm comentado no cursinho que as notas dos cotistas estão altas, mas a gente não entende bem o porquê. Acho que as pessoas que tentaram se dedicaram muito e é uma forma de selecionar quem vai para a segunda etapa”, afirmou. No caso dos cursos muito concorridos, ela comenta que o sentimento dos colegas de estudos era de preocupação redobrada. “No caso de cursos como medicina, a quantidade de vagas para os cotistas era muito pequena, então a saída foi estudar mais ainda para garantir uma nota de corte alta.”
O estudante Felipe Pedrosa Melgaço, de 19, também ficou surpreso com a nota de corte alta do curso que escolheu. Ele tenta uma vaga para medicina veterinária e se enquadrou na modalidade 4. Ele foi para a segunda etapa com 79 pontos, quatro acima da nota mínima da modalidade. “Achei a nota de corte bem alta. A minha modalidade teve a nota mais alta, até mais que a livre concorrência. Ninguém esperava por isso, principalmente considerando que são alunos de escolas públicas. Os estudantes esperavam que a nota fosse bem menor.”
Duas chances
Débora de Araújo, de 18, estuda para cursar direito à noite na UFMG e não se arrependeu de concorrer pelo sistema de reserva de vagas. “Eu não sabia como seria para entrar, foi um tiro no escuro, mas acho que valeu a pena, porque, se não passamos pelas cotas, vamos pela livre concorrência”, afirmou. O que Débora quis dizer é explicado pela coordenadora da Comissão Permanente do Vestibular (Copeve), Vera Resende. Os alunos que optaram pelas cotas, mas não foram classificados automaticamente disputam as vagas pela livre concorrência, como prevê a lei.
“No caso da UFMG, a migração ocorreu de duas formas. No primeiro momento, alguns estudantes optaram por uma modalidade, mas não conseguiram comprovar com a documentação. Nesste caso, eles migraram para outras modalidades em que poderiam se encaixar ou foram para a livre concorrência. Veio a primeira etapa e os candidatos desclassificados pela nota de corte na modalidade que escolheram passaram a concorrer com todos os outros”, afirmou. Segundo ela, é importante que os alunos cotistas verifiquem o nome nas duas listas de classificação, tanto na modalidade que eles escolheram, quanto na livre concorrência.
Para Vera Resende, a diferença entre as notas não causou espanto para a instituição. E considera que a resposta esteja no número de vagas. Enquanto os cotistas concorreram a 12,5% das vagas, a livre concorrência ficou com 87,5%. “Não foi surpresa para nós, porque não aconteceu em todos os cursos, para alguns o sistema foi benéfico. Os candidatos que concorreram são bons, tiveram nota boa e são pessoas preparadas para entrar na UFMG”, afirmou.
Fonte: http://www.em.com.br/app/noticia/especiais/educacao/2013/01/04/internas_educacao,341033/ufmg-aperta-o-funil-para-os-cotistas-no-vestibular.shtml
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