quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A educação brasileira e o pensamento único.

Mestre em educação brasileira (UnB) e em ciências da educação (Purdue University, Indiana, EUA), Ph. D. em educação (Universidade de Londres, Reino Unido).

Na revista Veja de 16 de novembro, o jornalista Reinaldo Azevedo apresenta a resenha do livro Ascensão e queda do comunismo, de Arché Brown. O argumento central de Brown é o de que "o comunismo está morto". Azevedo questiona tal argumento e declara que "há mais comunistas nas universidades públicas brasileiras do que em Pequim". Essa declaração levanta assunto intocado pelas universidades brasileiras. Porém, há que se registrar que, pela primeira vez, alunos se posicionam contra o pensamento ideológico político partidário prevalente no diretório acadêmico de uma universidade, a famosa Universidade de São Paulo, e declaram que estão na universidade para estudar e não para fazer militância política.

De fato, a promoção do pensamento único em universidades fere a essência dessas instituições. Elas foram criadas para promover a capacidade dos alunos de pensarem e se posicionarem sobre vários saberes oferecidos por elas. Professores que, em vez de se dedicarem a essa tarefa, se ocupam em transmitir o pensamento imposto por uma facção política, cometem grave erro. Além dos mais, são responsáveis pelas atuais críticas de analistas à qualidade do ensino nas áreas humanas e sociais das universidades. Há também professores que divergem do pensamento hegemônico. Nesses casos, muitas vezes os professores são afastados e circunstâncias são criadas para que desistam de continuar na instituição.

Outra face, não menos importante, do problema levantado por Azevedo pode ser relacionada à discrepância entre os pensamentos dos filósofos alemães Karl Marx e Max Weber e os revolucionários que puseram esses pensamentos em prática. No século 17, Marx e Weber trocavam ideias sobre o que percebiam ser injusto nas organizações que se formavam na Europa. Naquela época, pessoas da nobreza tinham o privilegio de ocupar as posições mais importantes nas organizações que começaram a se estabelecer. Isso foi denominado, por Weber, como "grupo de status e classes sociais".

Mais tarde Weber desenvolveu tal ideia ao propor o conceito de burocracia. Por sua vez, Marx desenvolveu a ideia central de comunismo. Com o passar dos anos, os dois pensadores tomaram diferentes rumos e cortaram sua relação. É interessante comentar que eles hoje jazem lado a lado em um cemitério em Londres. Suas ideias correram mundo e foram se estabelecer, de modo forte e desviado das suas intenções originais, na antiga União Soviética, mais especificamente em Minsk. Nesse ponto, vale a pena relatar, ainda que superficialmente, como convém a este artigo, uma experiência pessoal acontecida nesse antigo país.

Estivemos em Minsk, Bielorrússia. Faltavam alguns anos para o fim da cortina de ferro imposta a outros países pela União Soviética. A perestroika de Gorbarchev se anunciava de modo ainda muito sutil. Em Minsk, terra natal de Lenin, acontecia um Congresso de Economia no qual participávamos como acompanhantes. Tivemos a oportunidade de ver e sentir o clima pesado criado pela suspensão das liberdades sociais. Como seria cansativo e impróprio descrever tudo o que vimos e sentimos naquele país, citaremos o que mais convém a este artigo, a saber: a falta de liberdade e a dificuldade de conhecer o que nos interessava, já que as esposas dos congressistas eram proibidas de sair sozinhas do hotel.

Quando saíam em grupo, eram conduzidas pela companhia de turismo estatal, que, frequentemente, nos levava para locais que não tínhamos escolhido na lista da agência estatal. Felizmente, após alguns dias, foi-nos permitido assistir aula em uma escola. Entre outras observações, podemos dizer que tudo naquela aula pode ser resumido como prática de repetição, pelos alunos, daquilo que a professora mostrava e falava. O resto era silêncio e retratos e gravações de discursos de Lenin em todos os lugares.

Voltando à resenha de Azevedo, é possível entender o conteúdo de sua declaração sobre universidades públicas brasileiras como temor de que nossas universidades não estejam cientes das consequências da falta da liberdade de pensar, ou melhor, da imposição do pensamento único e seus resultados na formação de nossos jovens.

Fonte: Autor(es): Ignez Martins Tollini - Correio Braziliense - 03/12/2011 - http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/12/3/a-educacao-brasileira-e-o-pensamento-unico/?searchterm=educa%C3%A7%C3%A3o

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