quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Enem: professores criticam banco de questões.

Segundo especialistas, MEC deveria ampliar universo de itens 
de onde saíram as perguntas vazadas do exame.

Para evitar uma crise como a que aconteceu com o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) este ano, quando estudantes de Fortaleza tiveram acesso a questões da prova dias antes de sua aplicação, o Ministério da Educação (MEC) deveria aumentar em pelo menos cinco vezes o chamado Banco Nacional de Itens (BNI), dizem especialistas ouvidos pelo GLOBO.

Foi desse banco que saíram todas as perguntas da prova, inclusive as 14 questões vazadas para 639 alunos do Colégio Christus. Segundo o MEC, o BNI tem seis mil itens. Todos foram submetidos a estudantes no pré-teste, aplicado em cerca de mil escolas e universidades do país de 2009 a 2011. Para o ministério, esse número de itens é suficiente, e o mesmo banco servirá de fonte para as duas edições do Enem 2012. Mas professores dizem que esse montante deveria ser muito maior.

Dessa maneira, mesmo que um colégio repasse questões do pré-teste para seus alunos antes do Enem, o risco de essas perguntas coincidirem com aquelas que cairão na prova seria bem menor. Para Tufi Machado Soares, professor do departamento de Estatísticas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o banco deveria ter, pelo menos, 40 mil itens.

- A seleção dos itens no BNI para elaborar a prova não é simples. Tem que obedecer a critérios estabelecidos pelos especialistas (testar competências e habilidades e diferentes níveis de dificuldades). Num banco de seis mil questões, é possível que haja lacunas. Se o banco fosse suficientemente grande, mesmo que questões vazassem ou fossem roubadas, as chances de coincidir com aquelas usadas no Enem seriam de praticamente zero - explica Soares.

Ele também lista sugestões para melhorar o Enem:

- Seria necessária uma grande comissão para acompanhar o processo, com especialistas em Teoria de Resposta ao Item (TRI), psicometria e avaliação educacional. As questões só deveriam ser usadas no Enem um bom tempo depois de aplicadas no pré-teste. Agora, o MEC tem que resolver como aumentar esse banco em pouco tempo.

Em 2010, 264 professores participaram da elaboração das questões do BNI. Cada questão aprovada custou R$170 ao MEC: R$100 pela criação e R$70 para a revisão. Primeiramente, os professores passaram por cursos de capacitação feitos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), órgão do MEC responsável pela aplicação do Enem. Depois, viajaram a Brasília , onde, durante sete dias, produziram as questões nas dependências do Inep, sob forte esquema de vigilância.

- Na capacitação de 2010, o Inep disse que havia um banco de apenas duas mil questões usáveis para o Enem, das quais 540 já tinham sido usadas nas quatro provas de 2009 (uma delas foi furtada e anulada). Por isso, em 2010, aconteceu uma chamada pública para aumentar o banco - explica um professor de História que participou da elaboração das questões, mas não pode ser identificado por ter assinado um termo de sigilo.

Segundo o professor, são produzidas apenas cerca de 500 questões por ano. Para ele, o vazamento dos itens foi motivado pela disputa entre escolas pelo topo do ranking do Enem. Ele recomenda a volta da divulgação do resultado nos moldes anteriores, em que cada colégio recebia um relatório com indicadores do desempenho de seus alunos por competência.

- São pelo menos quatro horas de trabalho acadêmico por questão, que precisa passar por revisão técnica e de língua portuguesa, e ainda ser aprovada pelo Inep. Não pode nem computador pessoal nas salas, para garantir que nada saia dali. As pessoas são revistadas na entrada e na saída. Como é essa fiscalização no pré-teste? - pergunta o professor. - A lista de escolas que participam do pré-teste não deveria ser pública?

Por segurança, o MEC não revela a lista de escolas. Um pré-teste é realizado com duas turmas de 50 estudantes em cada instituição sorteada pelo Inep. O custo é de R$62 por estudante. A aplicação e a fiscalização ficam a cargo do consórcio Cespe/Cesgranrio. O MEC confirmou que as 96 questões presentes nas apostilas que o Colégio Christus passou a seus alunos antes do Enem foram retiradas dos cadernos de pré-testes. Todas já estão eliminadas do BNI e não correm risco de ser usadas nos próximos exames.

Faculdades podem receber até R$1 milhão por questões

Para aumentar o BNI, este ano o Inep celebrou um convênio com 16 instituições de ensino superior, como Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Pelo contrato, as instituições receberão R$100 mil para infraestrutura (sala segura, câmeras etc.) e capacitação da equipe de elaboração. Além disso, terão um apoio financeiro proporcional à inclusão de questões no BNI, que pode ir de R$30 mil (500 itens) a R$1 milhão (cinco mil itens).

Fonte: Autor(es): Lauro Neto - O Globo - 06/11/2011 - http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/11/6/enem-professores-criticam-banco-de-questoes/?searchterm=educa%C3%A7%C3%A3o

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